terça-feira, 29 de maio de 2007

No limite

O desabamento nas obras do metrô de São Paulo é um exemplo recente de cobertura que se enquadra na categoria “situação limite”, analisada por Ramón Salaverría em Los cibermedios ante las catástrofes: del 11S al 11M. Foi um acontecimento que rompeu, de maneira imprevista, a pauta informativa diária, causou súbito aumento do tráfico da web e acelerou o ritmo da produção de notícias. Por se tratar de um fato trágico, que causou 7 mortes, o impacto causado foi ainda maior. A cobertura dos sites brasileiros foi extensa, visto que o assunto se prolongou por diversos dias (depois do acidente em si, houve um período de resgate das vítimas, o desmonte da grua, as investigações sobre o caso e a retomada das obras). Alguns portais, no entanto, tiveram mais sucesso que outros.

O Terra, por exemplo, não organizou seu conteúdo em uma seção especial. Ao procurar informações sobre o desabamento do metrô, o internauta conseguia, apenas, acessar uma lista de notícias sobre o assunto, em ordem cronológica. Apesar de disponibilizar muitos textos, o conteúdo não ficou bem organizado. Vídeos, fotos e arquivos de áudio eram difíceis de encontrar. O internauta tinha que, de certa forma, adivinhar qual daqueles títulos comportava conteúdo multimídia. Nota-se, ainda, que o portal corrigiu algumas notícias, como o que falava sobre os horários do rodízio de carros em São Paulo, que fora alterado devido ao acidente. Essa atitude é importante, visto que, em seu texto, Salaverría afirma que muitas informações erradas dadas nos sites espanhóis durante a cobertura dos atentados de Madrid, em 2004, nunca foram corrigidas, apenas excluídas da web, sem explicações. O Terra também investiu na participação do internauta, pedindo que eles “opinassem sobre o caso” e que mandassem fotos e notícias para o Vc Repórter. O problema é que, também nesse serviço, o conteúdo ficou desorganizado.

Na Folha Online, a convergência dos meios – tão destacada por Salaverría – abriu espaço para uma cobertura muito mais completa que a usual. A versão online do jornal criou um hotsite especial para a cobertura, incluindo seções especiais com explicações sobre cada momento do desabamento. Pela rapidez das informações, a versão online acabou realmente assumindo a função de protagonista na cobertura. A internet confere mobilidade aos meios, e as pessoas não precisam esperar mais pelo dia seguinte para ler as primeiras notícias sobre algum determinado assunto em uma revista ou jornal. Além disso, em casos como esse, o aproveitamento dos recursos multimídias - também destacado no texto de Salaverría - possibilita com muito mais rapidez a primeira imagem do acidente. Assim, a Folha usou infográficos, galeria de imagens, mapas e textos complementares como “entenda o caso”, “leia sobre outros acidentes”, “saiba sobre a linha 4” e “saiba sobre a Odebrecht”. O conteúdo ficou bem organizado e o internauta teve facilidade de encontrar o que queria.

O iG manteve uma página com as últimas informações sobre o trabalho do Corpo de Bombeiros e o resgate das vítimas. Além disso, dentro do site era possível acessar um link para ver um vídeo feito por um cinegrafista amador em que um caminhão caía dentro da cratera. Outra ferramenta utilizada pelo portal foi um espaço aberto para aquele internauta que passava pelo ponto da Marginal Pinheiros próximo ao local do desmoronamento. O usuário era convidado a mandar depoimentos sobre o que presenciou e fotos ou vídeos da tragédia. Os internautas mandaram fotos, deram depoimentos e fizeram comentários. Nesse sentido, o site mostrou que o jornalista se torna uma ponte entre o leitor e o meio de comunicação. O iG também mostrou infográficos que explicavam tanto o desmoronamento quanto o desmonte da grua. A cobertura foi extensa, mas o conteúdo não foi reunido em uma página especial, como na Folha Online.

Em geral, pode-se dizer que a cobertura do desabamento do metrô foi mais quantitativa do que qualitativa. As notícias foram muitas e postadas rapidamente, de modo que os sites primaram pelo imediatismo. No entanto, faltou organização, o que revela que uma das grandes dificuldades da internet é lidar com a grande quantidade de informação disponível.

De volta?

Depois de um longo hiatus, estará o Bisnaga de volta? Veremos.
Em tempo: o famoso vídeo do Povo Fala, pelo jeito, não aparecerá por aqui. Promessa não é dívida.